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Mostrando postagens de setembro, 2012

Seria a justiça de Deus contraditória, segundo Platão?

Polemarco assume a tese , atribuída ao poeta Simônides, sobre a natureza da justiça ser devolver o que se deve, sendo o bem ao amigo e o mal ao inimigo. Embora eu não seja um leitor da bíblia sagrada dos cristãos, minha experiência em sala de aula contribui para alguns devaneios. Se imaginarmos que os propósitos de Deus são legitimados por sua lei, e que sua lei é expressão da sua vontade, então podemos concluir, junto com Polemarco, que se formos amigos do propósito de Deus receberemos como recompensa o bem (paraíso eterno); ao contrário, se formos inimigos do seu propósito, então teremos aquilo que merecemos: o mal (inferno eterno). "Na verdade, há recompensa para o justo" (Salmos 58.11)   "Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome" (Hebreus 6.10) Segundo alguns estudiosos bíblicos, Deus é todo perfeito, onipresente, onisciente e onipotente. É preciso que se entenda a questão do seg

Diabo a quatro

Esta noite sonhei que o diabo se disfarçava de aluno Incrivelmente ele estava lá, como adolescente, velho e adulto Havia uma cena interessante 34 estudantes prestando atenção no assunto Apenas ele, na última carteira, Cabeceando e rindo ironicamente de tudo Não! Ele não compreendia o nada... Lembro-me do seu olhar Da maneira como mudava do agressivo para o sarcasmo Da maneira como ao extremo me provocava o tom do gargalho. Inexplicavelmente ele preferia os mais jovens Em todas as turmas ele estava presente Preferia os mais inseguros e descontentes Fazia-se de vítima com aquela voz estridente Brigava comigo sem nem entender o assunto Esbravejava contra o mundo só pra me ver mudo Argumentava capciosamente como ardiloso astuto Só queria, no fundo, me deixar puto! Havia momentos em que o via quieto Apenas me observando, apenas me entreolhando Deixando-me “livre” no meu próprio silêncio Ele sabia que até comigo mesmo eu o sentiria Mais profundo que qualquer outro imun

Sobre Platão - A República - Livro I - Análise socrática da definição de Justiça apresentada por Polemarco

O livro I da República de Platão contém um diálogo entre Sócrates e Polemarco sobre a natureza da justiça. Polemarco assume a tese, atribuída ao poeta Simônides, na qual o justo é devolver o que se deve aos amigos e aos inimigos, sendo o bem àqueles e o mal a estes. Sócrates se utiliza de um método para examinar esta asserção. Vejamos, como sugestão de interpretação, algumas importantes passagens: Polemarco inicia afirmando que "é justo devolver aquilo que devemos". Sócrates encontra a exceção quando empreende o seguinte raciocínio: se alguém lhe pedir para guardar uma arma e após um tempo pedir sua restituição, o justo é devolvê-la ao requerente; mas no caso do requerente ter perdido a razão, e apresentar sinais de que tal restituição o será prejudicial, então o justo é não devolver a arma, e, portanto, não devolver o que se deve. Neste último caso, porém, quem não restitui e quem requere possuem uma relação de amizade. Observe como Sócrates transporta a tese que p

Sobre Platão - A República - Livro I - A busca pela Justiça como Princípio Regulador

O livro de abertura da obra A República de Platão apresenta uma busca pela definição da natureza da  justiça . Há uma passagem, entretanto, onde Sócrates expõe a Trasímaco (e presentes) a justificativa de tal exame, afirmando que "devemos analisar melhor o problema, pois não se trata de uma discussão a respeito de uma trivialidade, mas sobre o modo como temos de regular a nossa vida". Tais palavras apontam para a necessidade de se alcançar uma definição precisa e não contraditória que garanta a segurança de uma organização ética e política a partir de tal princípio regulador. A própria ideia (forma) de justiça permite, segundo Sócrates, um modelo para que se construa um sólido sistema jurídico para a pólis . Sócrates afirma, no término do livro I, que não se encontrou o que se buscava. Compreende-se, com estas passagens, que Sócrates possui a crença na possibilidade da existência de uma definição sobre o que seja a justiça, e que tal definição deva servir de princípio r