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Postagens

Freud e a cocaína, em poucas palavras

O interesse de Freud na cocaína vai muito além dos efeitos que ele mesmo experimentava com essa substância. Ernest Jones no traz a informação de que Freud vira, na pesquisa com a cocaína, a possibilidade de se tornar renomado e autônomo financeiramente, garantindo algumas condições materiais para a sua sobrevivência. O reconhecimento acadêmico, fruto de sua vaidade e ambição, também não estavam ausentes de suas motivações. Mas a pesquisa com os efeitos terapêuticos dessa substância garantiram o que Freud buscara inicialmente: o reconhecimento profissional. Trouxe, também, fortes frustrações para o jovem pesquisador. Além de provocar a dependência química e delírios em alguns usuários, também provocara a morte, devido às altas doses, de seu estimado amigo. Reconhecimentos e críticas fizeram com que Freud repensasse os focos da sua vida profissional. A relação da utilização da cocaína com alguns tipos de neuroses, tais como a neurastenia, por exemplo, já eram sugeridas por Freud. Um d
Postagens recentes

Sobre o conceito de sexualidade

Como entender psicanaliticamente o conceito de sexualidade? Pensar a sexualidade a partir de um referencial teórico psicanalítico é pensá-la a partir de um registro biológico em relação ao registros sociocultural e psíquico. O ser humano é compreendido como animal mamífero, capaz de se alimentar e se reproduzir, dentre outras características; é, também, um ser social e cultural, o que o faz existir em relação a outros indivíduos, imersos num mundo de valores éticos, estéticos e políticos. Ele é, assim considerado, um animal humano. Considerá-lo apenas a partir desses registros é, contudo, reduzi-lo a um campo de investigação estritamente objetivo, que desconsidera aquilo que ele tem de mais próximo, a saber, a sua subjetividade (nomeada aqui de registro psíquico). O ser humano é também um sujeito que se relaciona, que se identifica, que se emociona, enfim, que se posiciona frente ao biológico e ao sociocultural. Dizemos que ele é, nesse sentido, um ser psíquico. Melhor chamá-

Sobre Neurose e Psicose

Freud escreveu um texto, no final de 1923, intitulado  Neurose e Psicose . Não se trata de uma abordagem pormenorizada a respeito do assunto. A intenção de Freud é mais atualizar a linguagem frente à teoria estrutural, apresentada em  O Ego e o Id  (1923), do que propriamente descrever em detalhes o que é, como funciona e quais os tipos de neurose e psicose que existem. Sendo assim, nem todas as formas de neurose e psicose são abordadas nesse texto, mas apenas a diferença geral entre ambas. Freud afirma que “a neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id, ao passo que a psicose é o desfecho análogo de um distúrbio semelhante nas relações entre o ego e o mundo externo” (FREUD, 1996, p. 167). O escritor austríaco faz referências às origens das neuroses transferenciais, afirmando que elas acontecem devido a uma recusa do  Ego  em aceitar um forte impulso instintual do  Id , impedindo-o de se escoar. O  Ego  se utiliza, nesse caso, do mecanismo de defesa chamado  repressão .

Psicanálise e a metáfora do copo

Imagine que cada pessoa seja como um copo; cada uma já nasce com certa dose de ansiedade lhe preenchendo. Umas estão naturalmente mais cheias que outras. Considere que essa dose inicial seja chamada de  ansiedade natural , já que ela está presente naturalmente como forma de combustível para que a vida aconteça. Imagine que em cada pessoa, principalmente nos 6 primeiros anos de sua vida, outra porção de ansiedade seja depositada, aumentando o nível inicial e preenchendo o copo quase que totalmente. Parte dessa dosagem é o resultado do contato que a criança tem com o mundo adulto. Considere que ela vivencie os desajustes, os valores e os conflitos do mundo adulto e da civilização, fazendo com que seu copo seja preenchido de mais ansiedade. Essa dose será chamada de  ansiedade histórica . Há um terceiro momento em que o copo é preenchido: trata-se das ansiedades adquiridas no dia a dia, como aquelas provenientes das humilhações sofridas no trabalho, das limitações da vida financ

Notas sobre Jung: Inconsciente Coletivo, Instintos e Arquétipos

O conceito de inconsciente para Carl Gustav Jung (1875-1961) é diferente do conceito de inconsciente para Sigmund Freud (1856-1939). Para Jung, ele é uma “fonte de criatividade e potencialidade”, de onde surgem os “impulsos que tomam forma na matéria, de acordo com o espaço e o tempo de uma pessoa”. Para Freud, ele é o “depositário de conteúdos reprimidos, imagens, vivências dolorosas cercadas pelos mecanismos de defesa do ego” (RAMOS, 2007: 183). O inconsciente pode ser agrupado, na teoria junguiana, em inconsciente coletivo e inconsciente pessoal (individual). O primeiro foi descoberto quando o autor percebeu, nos “delírios dos loucos”, que havia um “estoque coletivo de imagens e símbolos arcaicos” (HYDE, 2012: 59). Essas imagens continham uma realidade que recebeu o nome, em 1919, de  arquétipos . Esse termo foi utilizado para se referir a memória que atravessa atemporalmente os indivíduos. Junto com os arquétipos estão os instintos, que também pertencem universalmente a todos o

O Efeito Paliativo e seus Derivados no início do tratamento Psicanalítico

É possível observar um fenômeno singular acontecer, em alguns casos, nas primeiras sessões de psicanálise. É o que chamarei de  efeito paliativo  e seus derivados. O termo paliativo se origina do latim  pallium , que significa “encobrir” ou “amparar”. Quando uma pessoa decide procurar ajuda psicoterapêutica é porque está, via de regra, sentindo-se sobrecarregada de sofrimentos. A tomada de decisão de buscar ajuda pode ativar, de súbito, o  efeito paliativo , isto é, a pessoa pode sentir uma imediata melhora. A crença de que o terapeuta é alguém que lhe ajudará, na medida em que uma aliança terapêutica for construída, parece proporcionar, em alguns casos, a diminuição instantânea do sofrimento, gerando, com isso, alguns derivados desse  efeito paliativo : 1. Efeito Placebo: O termo placebo recebe, atualmente, várias designações. O significado que me valho é o de  disfarce e  dissimulação . É relativamente comum algumas pessoas disfarçarem de si mesmas que precisam se engajar

Psicoterapia e felicidade

Você já percebeu como muitas pessoas sofrem quando se deparam com fortes frustrações. Ninguém concorda, a princípio, com a ideia de que perder seja algo bom. O processo da perda acompanha o ser humano em todos os instantes da vida. Seja em nível fisiológico, social, afetivo ou existencial, essa é uma realidade que o indivíduo precisa aprender a reelaborar em todo o momento, como se fosse uma ordem ou imposição da própria natureza. A necessidade de se reposicionar diante dos problemas que não se escolheu sofrer faz parte do desafio. O corpo que envelhece e não responde mais aos desejos da mente, que, por sua vez, parece estar mais ávida de vida, de paixões e de experiências prazerosas. O corpo que adoece de uma hora para a outra, atrapalhando uma série de projetos e objetivos que ainda precisavam ser alcançados. Os acidentes que assaltam o indivíduo sem explicação aparente, causados, muitas vezes, pela negligência e irresponsabilidade dos outros, ou, simplesmente, causados por sit

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Temas Filosóficos  cinco lições básicas para curiosos Autor: Tiago Monteiro Violante Valor por unidade: R$ 30,00. Imagem meramente ilustrativa Informações Técnicas: - 112 páginas; - Capa com Laminação Fosca total na frente e Verniz UV localizado; - Formato Fechado: 148 x 210 mm; - Formato Aberto: 296 x 210mm; - Contém orelhas com breve descrição sobre o autor; - Espessura: aproximadamente 1 cm; - Peso: aproximadamente 200 g.

Não, eu não sou ateu.

O ateu que retrato aqui é aquele que possui a crença de que Deus foi criado por motivos subjetivamente humanos. Deus seria, nestes termos, o substituto ou a projeção de aspirações profundas, que partem do próprio desamparo, angústia e desespero humanos. "Uma necessidade de causas", diriam uns; "uma necessidade de pai", afirmariam outros; "quem sabe não seja a projeção idealizada do maior desejo que os mortais teriam, a saber, o desejo da própria imortalidade" -- alguns ainda poderiam pensar.   Mas não, eu não sou ateu. Eu acredito que Deus foi criado por motivos subjetivamente humanos. Deus é o substituto das minhas aspirações profundas, tais como, por exemplo, o desejo de poder, de controle, do necessário (no sentido filosófico)... Deus representa a minha necessidade de causa sui , de pai protetor, de imortalidade... Sim, eu não sou ateu. Um mal na Psicanálise talvez seja alguns psicanalistas, já que estes se convenceriam que estão diant

"Que a terra lhe seja leve"

Hoje faleceu um grande cachorro amigo. Talvez seja melhor dizer que foi um grande amigo cachorro. Conheci o Coronel em 2006, quando ele tinha 1 ano. Eu e o seu dono fomos morar juntos no ano seguinte. Por cerca de 2 anos o Coronel foi nosso companheiro de todos os dias; o marido da minha cachorra Gaia e pai de seus 5 filhotes . Não havia tido a experiência, até então, de conhecer um cachorro com tais características: lembro, por exemplo, de quando ele levava um bronca e se sentava encostado na parede e com a cabeça levantada; ficava olhando de "rabo de olho" enquanto se escorava. Quando fazia algo que nos descontentava, também assim se comportava. Era tão marcante esta sua característica que, por vezes, transportávamos este comportamento também para nossas vidas, e caíamos na gargalhada em homenagem a ele. Outro traço marcante era a sua mansidão impar. Quando acuado, não revidava. Era extremamente carinhoso e educado. Sentava-se por perto e por ali ficava serenamente acom

O reflexo da filosofia?

O campo do simbólico me constitui. Mas seria possível que ele se auto constituísse? Mais do que possível é, precisamente, necessário que assim o seja. Nesta auto constituição ele procura, ou pode procurar, um fundamento que seja não simbólico. No momento em que este fundamento é concebido, porém, torna-se, logo em seguida, um fundamento simbolizado: o não simbólico pertence ao simbólico na mesma m edida que o impensado pertence ao pensado. Se alguma verdade existe para além do que se pode significar, esta não será encontrada a não ser que carregue em si mesma a indelével marca do significado. Se o simbólico pode procurar o reconhecimento (ou a criação) de um fundamento que o reflita a si mesmo, a presença ou a ausência de um critério seguro para que tal procura se finde só pode ser estabelecida por ele mesmo.   Toda a questão da verdade, colocada nestes termos, só pode ser uma questão restrita ao humano, mas nem todo o humano pode ou deve assumir esta questão como a sua verdade. É

Justificação aos estudantes de Artes Visuais sobre os procedimentos da Disciplina de Filosofia

Existe uma relação possível entre os físicos Newton e Einstein: este seria a superação daquele, e se a humanidade ainda insiste em falar sobre Newton, nada mais é do que para assumir seu valor historiográfico e/ou didático numa fase do Ensino Básico. A mesma compreensão não pode ser, no entanto, transportada para a relação entre os filósofos Platão e Foucault. Este não é a superação daquele, nem tampouco Platão poderia ser considerado ultrapassado em relação ao pensador francês, já que em filosofia se avalia mais o poder (onto) lógico do que o poder cronológico das teorias. Se o paradigma einsteiniano compreende e explica os fenômenos que o paradigma newtoniano falhou em compreender, ao ponto de se descartar o valor prático deste em função daquele, em filosofia o mesmo não acontece. Se Foucault constrói conceitos que se mostram importantes na compreensão do contemporâneo, não o faz contra Platão, mas com ele e apesar dele; Platão é a base do contexto pelo qual a trama conceitual é te

2001 - Bauru, SP

Este foi o terceiro e último quadro que pintei. Utilizei a foto do quadro original, que estava numa revista de arte, e copiei apenas o homem afinando o violino. No quadro original estavam duas crianças ao seu lado, descalças, comendo algo e olhando para o espectador. Como não sabia pintar expressão facial, e isto me incomodava naquela época, acabei por excluí-las da pintura. Se comparado com a obra original, esta "réplica" não ficou muito semelhante, uma vez que adaptei alguns elementos ao tom da liberdade. A escolha deste tema e destes elementos representam bem alguns sentimentos presentes ao longo da minha existência. Sobre a obra original, infelizmente não lembro do seu título e do nome do seu autor, o que, desde já, exige minhas sinceras desculpas.