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Freud e a cocaína, em poucas palavras

O interesse de Freud na cocaína vai muito além dos efeitos que ele mesmo experimentava com essa substância. Ernest Jones no traz a informação de que Freud vira, na pesquisa com a cocaína, a possibilidade de se tornar renomado e autônomo financeiramente, garantindo algumas condições materiais para a sua sobrevivência. O reconhecimento acadêmico, fruto de sua vaidade e ambição, também não estavam ausentes de suas motivações. Mas a pesquisa com os efeitos terapêuticos dessa substância garantiram o que Freud buscara inicialmente: o reconhecimento profissional. Trouxe, também, fortes frustrações para o jovem pesquisador. Além de provocar a dependência química e delírios em alguns usuários, também provocara a morte, devido às altas doses, de seu estimado amigo. Reconhecimentos e críticas fizeram com que Freud repensasse os focos da sua vida profissional.
A relação da utilização da cocaína com alguns tipos de neuroses, tais como a neurastenia, por exemplo, já eram sugeridas por Freud. Um dos grandes estudioso da época, o médico Dr. Obersteiner (defensor de Freud), publicou alguns estudos de tratamentos de neuroses e psicoses com o uso da cocaína. Defendera, inicialmente, a sua utilização, e a recusara, posteriormente, por constatar que provocara delirium tremens em alguns pacientes.
Jones observa que Freud era um pesquisador focado em fatos singulares, o que reconhece ser um traço da sua mente genial. O fato singular da cocaína havia chegado ao seu término, já que o conduzira para outro fato: a sua auto recriminação e a sua culpa diante do que acontecera com o seu amigo.
Essas foram algumas características do contexto que Freud vivenciou e que o fez ir em busca dos estudos sobre a Histeria e a Hipnose praticadas por Charcôt. Terminava a sua relação com o universo prático e teórico da cocaína e iniciava a sua entrada no universo prático e teórico da etiologia das neuroses.

(texto escrito e apresentado durante a formação em psicanálise pela Sociedade Psicanalítica do Paraná)

Referências Bibliográficas
JONES, Ernest. O episódio da cocaína. In: Vida e obra de Sigmund Freud. Tradução de Marco Aurélio de Moura Mattos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1979.

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