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Sobre Neurose e Psicose

Freud escreveu um texto, no final de 1923, intitulado Neurose e Psicose. Não se trata de uma abordagem pormenorizada a respeito do assunto. A intenção de Freud é mais atualizar a linguagem frente à teoria estrutural, apresentada em O Ego e o Id (1923), do que propriamente descrever em detalhes o que é, como funciona e quais os tipos de neurose e psicose que existem. Sendo assim, nem todas as formas de neurose e psicose são abordadas nesse texto, mas apenas a diferença geral entre ambas. Freud afirma que “a neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id, ao passo que a psicose é o desfecho análogo de um distúrbio semelhante nas relações entre o ego e o mundo externo” (FREUD, 1996, p. 167).
O escritor austríaco faz referências às origens das neuroses transferenciais, afirmando que elas acontecem devido a uma recusa do Ego em aceitar um forte impulso instintual do Id, impedindo-o de se escoar. O Ego se utiliza, nesse caso, do mecanismo de defesa chamado repressão. O reprimido cria representações substitutivas que forçam uma conciliação com o Ego; este, por sua vez, combate esses derivados, gerando um quadro psíquico chamado neurose de transferência. O Ego entra em conflito com o Id a serviço do Superego e da realidade.
Algo semelhante ocorre com o mecanismo das psicoses. Esta se apresenta como um distúrbio no relacionamento entre o Ego e o mundo externo. Segundo Freud, a amência de Meynert é um caso extremo e notável de psicose, onde o mundo exterior não é percebido de modo algum. Mesmo a cópia do mundo exterior, armazenada nas lembranças do sujeito e chamada de mundo interno, perde a sua significação (catexia). É nesse momento que o Ego procura criar um novo mundo interno e externo através do delírio e da alucinação; tal criação atende a dois fatos: está de acordo com as exigências dos impulsos desejosos do Id e está ancorado numa frustração intolerável, muito séria, de um desejo. A esquizofrenia é outra forma de psicose, onde a gênese dos delírios se encontra numa espécie de remendo no lugar de onde uma fenda na relação do Ego com o mundo externo apareceu.
Freud defende que a “etiologia comum ao início de uma psiconeurose e de uma psicose sempre permanece a mesma. Ela consiste em uma frustração, em uma não-realização, de um daqueles desejos de infância que nunca são vencidos e que estão tão profundamente enraizados em nossa organização filogeneticamente determinada” (FREUD, 1996, p. 169). As neuroses e as psicoses se originam nos conflitos do Ego com suas instâncias governantes, refletindo um fracasso na tentativa de reconciliação das várias exigências feitas a ele.
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FREUD, Sigmund. Neurose e Psicose. In: ESB. Vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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