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Resumo ANPOF 2010


De um ponto de vista cronologicamente inicial, A transcendência do Ego representa um protótipo dos grandes esforços sartrianos, durante aproximadamente 40 anos de produção intelectual, para compreender a subjetividade concreta. Contingência, refutação ao solipsismo, liberdade e responsabilidade são exemplos de alguns temas latentes nessa obra e que nunca foram abandonados por Sartre; pelo contrário, representam o horizonte de sua filosofia. Uma das mais relevantes características da nova diretriz da qual se insere seu pensamento é o abandono de um primado das filosofias do conhecimento para o encontro de um primado ético-existencial que é fundamentado, explorado e afirmado em cada uma de suas análises. Essa obra é iniciada com um breve resumo indicando o principal objetivo de Sartre: mostrar que, ao contrário da maior parte dos filósofos, muitos também psicólogos, o Ego não é uma estrutura nem formal e nem material da consciência: "ele está fora, no mundo; é um ser do mundo, tal como o Ego de outrem". Para a realização dessa proposta, Sartre elabora uma crítica a esses filósofos, iniciada com a primeira parte da obra, onde pretende mostrar as dificuldades de se adotar tais perspectivas e as confusões nos processos investigativos que culminam quase sempre nesses embaraços teóricos. Entretanto, apenas a partir da crítica à tradição não se reúnem elementos suficientes para fundamentar essa “liberação”: torna-se preciso um esforço teórico que o faça. Com o reconhecimento do percurso metodológico sartriano se pode afirmar que esse trabalho de "liberação" se torna consequência de um processo positivo, quer dizer, um processo de fundamentação que se inicia com a herança do conceito husserliano de intencionalidade, passa por uma operação não apodíctica, nem adequada, mas que mostra a consciência sem o Ego e termina com uma reflexão pura capaz de assegurar as evidências apodíctica e adequada da consciência sem o Ego. Portanto, a desconstrução da egologia transcendental pressupõe a construção (constatação fundamentada) de um campo transcendental impessoal e autônomo, o que Sartre realiza através desse processo de fundamentação. Nessa direção é que se busca apresentar algumas operações, e suas respectivas justificativas, que permitem Sartre fundamentar a impessoalidade do plano irrefletido e, consequentemente, elaborar sua crítica à tradição e descrever fenomenologicamente a constituição do Ego.

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