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problemas do aparecer

Todo aparecimento sempre pressupõe regras em seus limites. Entendo como regras exigências que a mim se impõem sob o risco permanete da transgressão e da possibilidade de uma consequente culpa.

Esse reconhecimento me impede de filosofar? Será que o reconhecimento dos limites é um reconhecimento apenas dos meus limites? Um aparecimento é tão individual ao ponto de eu nunca conseguir uma teoria? Se assim for nunca conseguirei me libertar de mim mesmo, reconhecendo os limites do outro também.

Este aparecimento, que ainda não sei se é só para mim tal como é, ou se é também para o outro tal como é para mim, talvez contenha regras em um nível de estrutura que não dependa de mim para serem. Ou melhor, talvez dependa na media em que as vivo, mas não na medida em que as crie. E aqui está um problema: se tenho certeza que não criei estas regras, como elas podem ser? Talvez dependam de outro ser para serem; talvez simplesmente sejam assim em seu próprio ser; ou talvez ainda eu as criei sem saber que o fiz. Se esta for a opção, o conceito de insconsciente, talvez, tenha lugar, mesmo teoricamente inconcebível. Para ser mais exato, ao se partir de uma referência imediata (cogito), o máximo que poderia conceber é a possibilidade de que criei regras num momento e as esqueci deste. Isto não pressupõe um inconsciente criando regras, mas apenas que fico mais velho com o passar do tempo e esqueço das coisas que fiz para mim mesmo.

Mas não é como criador de regras que sinto minha vida, mas apenas como um selecionador delas. Apenas escolho se sim ou se não. Ou as faço ser fazendo acontecer, ou as faço não ser fazendo acontecer outra coisa.

Se assim for, a filosofia nunca poderá criar aparecimentos diferentes destes, mas apenas dizer como o aparecimento ocorre e como nós mesmos nos damos com ele.

singelos problemas do aparecer...

Comentários

  1. Caro Tiago,
    a palavra é : invenção.
    Foi você mesmo, o que ha de humano em você que criou essas regras.
    Em Nietzsche, é reitereada muitas vezes a posição do homem como artista e da vida como arte.
    Fomos nós mesmos criadores - penso que se pode dizer isso com alguma segunrança.
    Não sei o que aconteceu com o comentário que você fez no meu blog, ele desapareceu.

    Um abraço!
    Ygor.

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  2. Caro Ygor,

    Obrigado por sua participação.
    Felizmente ou infelizmente não tenho a mesma segurança sobre essa concusão. Como eu mesmo poderia ter criado essas regras sem saber que o fiz?
    Conheço alguns pensadores que se posicionam de uma ou de outra forma sobre esse assunto. Mas uma das coisas que me instiga nisso tudo é saber como eles puderam ter certeza...

    Grande Abraço,
    Tiago.

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  3. Caro Tiago,

    você tem razão.
    As regras que processam o acontecimento não foram criadas por "você", no sentido próprio da palavra.

    Mas foram criadas pelo que há de humano em você - algo de que você não tem consciência, algo que camadas e camadas milenares de experiência humana depositaram em você.

    Se estivermos com Freud, podemos chamar isso de "inconsciente", e acho que é uma boa pista.

    Talvez "A genealogia da moral" possa lhe clarificar um pouco isso. Não sei quão próximo é você de Nietzsche, mas toda a proposta desse período é trazer à luz as camadas soterradas que nos fizeram agir como agimos.

    Se quiser conversar melhor, me escreva:
    grandesertao@gmail.com

    Um abraço,
    Ygor.

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  4. Caro Ygor,

    É bastante interessante o que vc escreveu. Do Nietzsche conheço pouco; talvez um pouco o que ele representou na passagem da filosofia moderna para a contemporânea. Não o conheço nas minúcias de seu pensamento, mas ouço os ecos de seus conflitos do alto das montanhas.

    Simpatizo com essa idéia de que nós criamos aquilo mesmo que nos determina. Ao mesmo tempo somos livres e condenados; somos o que fizeram de nós e o que fazemos com tudo isso. Sobra certa esperança; algo pelo qual se possa lutar e conferir sentido à existência. Algo de dialético na estrutura do próprio existir.

    Apesar disso tudo o inconsciente pode mesmo ser uma pista, mas talvez não passe de uma má compreensão desse engendramento...

    obrigado pela sugestão de leitura... assim que for possível tomarei conhecimento da genealogia...

    um grande abraço.

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  5. Caro Tiago

    Não sei se captei muito bem o seu texto, mais o que eu entendo sobre a questão das regras e nossa obediência a elas é o seguinte: segundo o sociólogo Francês Emili Durkhein nós vivemos numa sociedade que é definida como um sistema de funções ou seja, num corpo coletivo onde tudo é funciona conforme o figurino, ou seja, de acordo com as instituições: Igreja, estado, família,etc. e que tais instituições formularam as regras.
    O interessante de tudo isso é que o autor diz o seguinte, nós os indivíduos nascemos com as regras e obedientes as instituições e nada do que façamos ou pensamos ira muda-las, muito pelo contrario, nós morreremos e as regras e as instituições que as norteiam permaneceram comandando nosso filhos e descendentes.
    Mais se contrapormos a ela de alguma forma? O corpo coletivo ira reagir contra nós com seus anticorpos ou seja, as instituições que iram nos reprimir de forma cabal.
    Concluindo, segundo Durkhein nós não fazemos as regras e temos que obedece-las, caso não o façamos seremos reprimidos pela sociedade de alguma forma, é o que se chama de fato social.

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  6. Caro Almir,

    Obrigado pela interação.

    Interessante a tese de Durkhein. Obviamente, nós é quem criamos esse "sistema de funções". Tenha ele essas ou aquelas características, sempre estaremos cercado por seus limites. Não será a expressão da nossa liberdade justamente a possibilidade de modificar umas regras por outras? Não que nos livraremos definitivamente da imposição de algum tipo de repressão; mas talvez possamos nos livrar deste fato social que hoje se nos apresenta - e faremos isso substituindo-o por outro.

    De qualquer forma, não me sinto tranquilo em atribuir a uma sociedade passada a única responsabilidade na manutenção dessas regras. Sinto que contribuo para sua permanência e/ou sua transformação. Na verdade, se há mesmo alguém a quem responsabilizar nesse processo, só pode ser os vivos. Nesse sentido não consigo concordar com a conclusão de Durkhein que você apresenta.

    Um grande abraço.

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  7. Não é apenas a uma sociedade passada que se atribui a perenidde dos valores. Valores são resultado de milênios de experiência humana. A origem disso remonta a tempos aos quais a história nada nos fala.
    Durkhein, francamente, me soa como um filisteu, ou seja, desconsidera radicalmente o papel da arte e do pensamento como agentes de transvaloração. Falar de valores imutáveis aos quais se deve total obediência é ignorar o caráter histórico e mutável dos mesmos.
    Insisto na postura nietzscheana, segundo a qual tais "regras", postas sob a lente da genealogia, são passíveis de intervenção, papel que cabe ao artista e ao filósofo.

    Abraços!

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