Ele está entre nós

Constantemente se procura e se compara algum jogador com o Pelé, o rei do futebol. Perguntam se é um novo rei que está entre nós. Isso me traz uma inquietação semântica. Questiono-me o que seria um rei do futebol? Claro, depois me questiono o porquê estou me questionando sobre isso. Mas minha conduta autocrítica não me impede de escrever mais essa banalidade: não sei bem ao certo o porquê... Será que sou tão banal assim? Foda-se! Aí vai!

Penso que o Pelé não recebeu o título de rei das mãos do próprio Deus. Ele não é uma encarnação metade divina metade humana: ele foi eleito rei por àqueles que se consideravam seus súditos; por àqueles que o considerava com certo poder para governar. Qual poder seria esse? De que governo estava-se precisando?

Os contemporâneos de Pelé jogador visualizaram nele algo tão novo que mudara os parâmetros do futebol. Semelhante a um rei que desbrava caminhos e conduz seu povo a uma terra nova, Pelé conduzia o futebol a uma nova estética. O que de fato o caracterizou como inovador foi o conjunto da obra em curso. Um jogador completo, com força física, alta impulsão, cabeceio firme e direcionado, conhecedor da técnica do futebol, extrema habilidade de movimentação e de drible, o maior goleador de todos os tempos, violento quando achava necessário e muito humilde em toda sua vida esportiva. Com seu reinado, continua defendendo valores que julga necessários para o esporte: licitude e atuação social. Sem dúvida, uma pessoa totalmente decidida de caráter, embora apresente algumas manchas, das quais não falarei, em sua vida pessoal.

De vez enquando nossos contemporâneos exclamam: um novo rei do futebol surgiu! Isso se deve ao fato de alguns jogadores possuirem algumas das características do rei: um bom driblador; um eficiente goleador, etc; Mas pergunto: O que esses jogadores fazem efetivamente para mudar a estética do futebol? Será algum deles um profeta da bola?

Minha posição é clara e defensável: Ele está entre nós: é muito habilidoso, forte, tem ótimo impulso, tem uma liderança que assusta o técnico da seleção brasileira, um carater motivador, o maior goleador da história em sua posição e ainda defende o time como jamais o Pelé conseguiu; em suma, um novo jogador completo. Seu nome: Rogério Ceni.

Tanto se procura um rei no meio campo ou no ataque de um time, quando na verdade Ele está no gol: é um goleiro artilheiro e capitão. Mas o critério nobre de seu reinado reside no fato dele ter modificado o futebol. Rogério Ceni nunca saiu do São Paulo, mostrando que é possível fazer futebol sem almejar milhões de euros - embora já os tenha recebido no Brasil mesmo. Mas o que está em jogo são novos parâmetros: devolver ao mundo um futebol alegre, eficiente, apaixonado e vibrante contra um futebol mercenário que nem Pelé soube conter. Quem não vibra com um simples lance do futebol, como bater uma falta, ou mesmo um simples recuo de bola para o goleiro, quando o Rogério Ceni está jogando? Sem contar a perplexidade que a todos acomete quando ele faz um gol, ou mesmo quando pega um pênalti. Como não se remeter a todo o conjunto de sua obra quando ouvimos seu nome? Todos esperam os 1000 jogos e os 100 gols pelo time do São Paulo.

Sem dúvida estamos diante do jogador mais completo desde o Pelé. Estamos em outros tempos, é verdade; tempos de futebol rápido, técnico, estratégico e de muita força física. Rogério Ceni é um jogador que está no pensamento de seus companheiros e adversários. Se o técnico cair, permanece sua liderança. Um jogador que está na alma da torcida, na estratégia do jogo, nos momentos decisivos do ataque e da defesa.

Seu reinado somente a história reconhecerá.