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Notas sobre Jung: Inconsciente Coletivo, Instintos e Arquétipos

O conceito de inconsciente para Carl Gustav Jung (1875-1961) é diferente do conceito de inconsciente para Sigmund Freud (1856-1939). Para Jung, ele é uma “fonte de criatividade e potencialidade”, de onde surgem os “impulsos que tomam forma na matéria, de acordo com o espaço e o tempo de uma pessoa”. Para Freud, ele é o “depositário de conteúdos reprimidos, imagens, vivências dolorosas cercadas pelos mecanismos de defesa do ego” (RAMOS, 2007: 183).
O inconsciente pode ser agrupado, na teoria junguiana, em inconsciente coletivo e inconsciente pessoal (individual). O primeiro foi descoberto quando o autor percebeu, nos “delírios dos loucos”, que havia um “estoque coletivo de imagens e símbolos arcaicos” (HYDE, 2012: 59). Essas imagens continham uma realidade que recebeu o nome, em 1919, de arquétipos. Esse termo foi utilizado para se referir a memória que atravessa atemporalmente os indivíduos. Junto com os arquétipos estão os instintos, que também pertencem universalmente a todos os seres humanos.
Segundo Hyde, “os instintos são impulsos para executar ações ligadas à necessidade de sobrevivência e têm uma qualidade biológica”; são modos “inconscientes de compreensão que regulam nossa percepção” e que comandam as nossas ações. Os próprios instintos são arquétipos, já que são “formas inatas de intuição”. Embora sejam “os dois lados da mesma moeda”, a diferença que se pode fazer entre arquétipos e instintos é que, enquanto os primeiros determinam o modo de apreensão da realidade, os segundos determinam as ações: “tanto instintos quanto arquétipos são coletivos porque estão relacionados com o universal, conteúdos herdados para além do pessoal e do individual, e estão relacionados uns aos outros” (HYDE, 2012: 59).
A diferença que precisa ser feita é em relação aos arquétipos e às imagens arquetípicas. Os arquétipos apenas são inferidos, ao passo que as imagens arquetípicas adentram a consciência, se mostrando como o principal meio pelo qual se pode chegar àqueles. As imagens arquetípicas possuem uma existência material, pois se revelam como imagens singulares.
Vargas (2007: 209) afirma, citando Jung, que “é na segunda metade da vida que o indivíduo vai entrar em contato com os arquétipos, matrizes de comportamento herdadas enquanto espécie, do inconsciente coletivo. Isso se dá exatamente pelo processo de individuação, no qual ele discrimina quatro fases: em primeiro lugar a conscientização da persona (máscara através da qual o indivíduo se relaciona com o Outro e com o mundo), em segundo lugar o confronto com a sombra (formada por conteúdos inconscientes que já deveriam estar na consciência), em terceiro lugar o encontro com a anima (para o homem) ou com o animus (para a mulher) – arquétipos que trazem à consciência sua contraparte – e, finalmente, o encontro com o Self (ou si-mesmo), representado pelos arquétipos do velho sábio ou da velha sábia”.
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Referências Bibliográficas
  • HYDE, Maggye; McGUINNESS, Michael. Entendendo Jung; tradução Adriana de Oliveira. São Paulo: Leya, 2012.
  • RAMOS, D. G.; MACHADO JR, P. P. Individuação e Subjetivação. In: PINTO, Manuel da Costa (org.). Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
  • VARGAS, Nairo S. Tornar-se si mesmo. In: PINTO, Manuel da Costa (org.). Livro de ouro da psicanálise. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.

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