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O Efeito Paliativo e seus Derivados no início do tratamento Psicanalítico

É possível observar um fenômeno singular acontecer, em alguns casos, nas primeiras sessões de psicanálise. É o que chamarei de efeito paliativo e seus derivados. O termo paliativo se origina do latim pallium, que significa “encobrir” ou “amparar”.
Quando uma pessoa decide procurar ajuda psicoterapêutica é porque está, via de regra, sentindo-se sobrecarregada de sofrimentos. A tomada de decisão de buscar ajuda pode ativar, de súbito, o efeito paliativo, isto é, a pessoa pode sentir uma imediata melhora. A crença de que o terapeuta é alguém que lhe ajudará, na medida em que uma aliança terapêutica for construída, parece proporcionar, em alguns casos, a diminuição instantânea do sofrimento, gerando, com isso, alguns derivados desse efeito paliativo:
1. Efeito Placebo:

O termo placebo recebe, atualmente, várias designações. O significado que me valho é o de disfarcedissimulação. É relativamente comum algumas pessoas disfarçarem de si mesmas que precisam se engajar num tratamento completo, pois elas sabem que essa decisão demandará tempo, deslocamento e responsabilidade. A atitude de se auto-enganar é bastante comum no dia a dia, não apenas no consultório. Exemplos não faltam: As inúmeras desculpas para não se fazer academia ou para não se ler aquele livro que precisa; o uso de drogas lícitas ou ilícitas, a ida a um show musical, a um confessionário, o bate papo com amigos e as muitas situações em que a pessoa procura alívio rápido também são exemplos do efeito placebo. Quem nunca sentiu diminuir as dores quando chegou no Pronto Socorro de um hospital e teve que esperar um certo tempo para ser atendido? Quem nunca sentiu alivio ao ficar horas desabafando a indignação nas costas do amigo? E quantas satisfações são experimentadas por aqueles que compartilham, nas redes sociais, a sua intimidade com todos (inclusive desconhecidos), na busca desesperada de uma curtida, de um comentário, de uma (per)seguida ou de um compartilhamento? O desconforto de investir em si mesmo pode fazer a pessoa trocá-lo pelo conforto da autodissimulação.
O que nomeio de efeito placebo é esse alívio imediato que acontece em várias  situações ao longo do dia, e da qual muitas pessoas se tornam dependentes. No contexto da psicoterapia, esse efeito funciona como um disfarce a serviço das resistências, fazendo com que a pessoa abandone o tratamento.
2. Efeito Adiamento:
efeito adiamento é concebido como sendo um aspecto positivo do efeito paliativo, pois representa uma resposta benéfica ao tratamento. Semelhante ao placebo, o adiamento também provoca um alívio imediato da situação crítica, já que transfere para o futuro a reemissão das crises. Ele não atua, porém, no sentido de forçar a pessoa ao abandono do enfrentamento interior, assim como o placebo o faz. O adiamento provoca a diminuição do sofrimento instantâneo ao mesmo tempo em que encoraja a pessoa na continuidade do tratamento. A condição que comumente se experimenta é a melhora, com a consciência, porém, de que ainda não se trata do resultado desejado.
adiamento também está presente em muitas situações do cotidiano, como, por exemplo, com o aluno que deixa para estudar na véspera da prova. Sua angústia não é forte ao ponto de abandonar efetivamente a escola. Ele nutre a crença, contudo, que deve continuar os estudos, mas acaba transferindo a angústia de estudar e ser avaliado para o futuro. Em outras palavras, deixa para pensar e sofrer apenas no dia da prova.
Vale afirmar, contudo, que o adiamento no contexto da psicoterapia é mais proveitoso do que no contexto escolar, já que neste o aluno pode conseguir a aprovação sem ter aprendido corretamente a matéria, enquanto naquele a pessoa pode alcançar a melhora que realmente deseja.
3. Efeito Atenuante:

efeito atenuante é a face mais positiva do efeito paliativo. Ocorre a diminuição imediata do sofrimento, tal como no placebo; ocorre, também, a transferência do êxito para o futuro, semelhante ao adiamento; e ocorre o acréscimo da principal característica pretendida nesse início de trabalho, a saber, a presença de um fortalecimento das expectativas do Ego em relação ao tratamento.
Essa característica contribui para que o indivíduo percorra no presente as densas sombras da sua mente, de forma corajosa e interessada. Essa situação o coloca no cerne do tratamento desejado.
Considerações finais:
efeito paliativo está presente no momento da “pré-transferência”, onde a neurose transferencial ainda não se instalou por completo. Em outras palavras, ele acontece no inicio do tratamento, cabendo ao psicanalista a compreensão dessas possibilidades para maneja-las da melhor forma. O objetivo é contribuir para que as resistências iniciais sejam refletidas, repensadas e trabalhadas na cena presente.

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